O OLHAR

Sempre que me deparo com um texto para decorar, eu me deparo com um monte de palavras sem sentido e relembro da importância e da força de cada uma. De todos os textos que já atuei e poemas que já declamei, os mais inesquecíveis e que tiveram mais retorno do público, foram aqueles cujas palavras falavam diretamente dentro de mim.

É muito fácil manipular as palavras. A técnica do ator nos faz ter a consciência do efeito que causamos quando aceleramos palavras, quando enfatizamos palavras, alongamos ou encurtamos palavras, sussurramos palavras, colocamos pausas entre palavras e mil outros efeitos para interpretarmos um texto de uma forma que não seja monótono. Mas com isso tudo, sem a verdade e o ritual que cada palavra merece, até o melhor ator do mundo se tornaria um canastrão.

A palavra é tão importante que, usada de forma leviana, machuca. A ausência dela também pode se tornar uma grande agressão. Se todos valorizassem mais a palavra, os cartórios perderiam o sentido, pois uma palavra verdadeira não precisa de contrato para dar segurança. Todos nós guardamos palavras nostálgicas para o bem ou para o mal. Temos arrependimentos de palavras faladas ou silenciadas e nos emocionamos com as palavras emanadas no momento certo.

Vejo pessoas aprendendo palavras de outros idiomas para poderem ter mais poder e oportunidade. Palavras caem sobre as nossas cabeças para nos informar e vender tudo. Já imaginou um mundo sem palavras? Um mundo em que não existisse esse tipo de comunicação? Com certeza, seria um mundo mais silencioso, mas talvez com uma comunicação mais íntegra. Isso se houver o olhar para substituir a fala. Porque o único silêncio que eu vi até hoje que realmente substitui as palavras é o silêncio do olhar. O olhar é o idioma universal.