As poucas vezes que eu encontrei com o Hermínio (amigo, ator, roteirista e diretor), a nossa conversa foi mais ou menos assim:
Hermínio – Poxa, Shelmer! Adorei o Bordel de Véu!
Shelmer – Que bom que você gostou. Obrigado.
Hermínio – Esse texto é muito bom! É um puta exercício pra ator. E a história é muito surreal. Aqui em Sampa os caras vão pirar com esse texto! Eu quero montar! Mas você tem que estar no elenco.
Shelmer – Você sabe que eu já participei de duas montagens e não sei se tenho fôlego pra uma terceira. Mas você sabe também que eu admiro a sua arte e quero muito fazer um trabalho com você.
Hermínio – Pois então!... Vamos fazer esse trabalho! Eu quero fazer o Stiletto.
Shelmer – Se coincidirem as nossas datas, eu faço.
Hermínio – Sem porra de data! Vamos fazer e pronto!
Shelmer – Sem pressão, tá?
Hermínio – Não estou fazendo pressão, não. Vou começar a pensar na produção, ok? (Depois de um silêncio)– Pressão eu estou sentindo é com o roteiro que eu estou escrevendo.
Shelmer – O que foi?
Hermínio – Não passei da primeira página. Estou vazio. Sem inspiração.
Shelmer – Inspiração também se fabrica.
Hermínio – Que nada.
Shelmer – É verdade. Já experimentei. Aprendi com o Jarbas. Dá muito certo.
Hermínio – Mas como é isso?
Shelmer – Se está vazio de arte, você tem que se preencher de arte. Tira um tempo pra ouvir aquela música que te toca, aquele filme, ver alguma pintura, ler alguma poesia ou conto ou romance. Respire alguma arte que você adora e depois volte a escrever. Comigo sempre dá certo.
Hermínio – Será?
Numa outra conversa ele estava surpreso com o que aconteceu. Acho que ele ouviu a Bárbara, leu algum trecho de um livro que gosta e já contava que estava no meio do roteiro. E ainda todo empolgado pra continuar.
Eu também não sabia que criar um estado de inspiração fosse tão simples. Que é apenas uma mudança de sintonia. A verdade é que, na maioria das vezes, do simples se extrai o infinito.
Irmão! Depois a gente marca uma data pra montar esse trabalho, ok?! rs